Ontem terminei de ler um livro: ‘’O mínimo sobre gnosticismo’’. Além de aprender muitas coisas novas, conectar várias ideias que estavam soltas, ainda tive alguns insights que vou compartilhar com você.

‘’A Revolução tem pressa’’ é uma menção que Flávio Gordon faz, referenciando Camus.1 Todo o livro (O Mínimo Sobre Gnosticismo) fala sobre gnoses, heresias modernas. A revolução é uma gnose, uma heresia. Bom, se a revolução tem pressa, um cristão não deve ter pressa, certo? O verdadeiro cristão já conhece a verdade teológica, ele sabe que a felicidade não é plenamente possível aqui na Terra. Não precisa de uma revolução rápida. Por que você anda ansioso? Quer o paraíso na Terra? Acredita que a lei vai te salvar?
Você acredita em um paraíso distante, para onde um dia iremos depois da Terra? Você vive a espera desse dia? O mundo é um lugar para se fugir? Gnose! Por mais que essa ideia esteja no meio ‘’cristão’’ e talvez até em você, ela é uma ideia gnóstica. Para um cristão ortodoxo a eternidade é a posse de todo o tempo. Aqui Flávio Gordon cita ninguém mais ninguém menos que: Boécio.
Boécio definiu a eternidade como: “A posse plena e simultânea de todos os momentos do tempo" ("quod interminabilis uitae plenitudinem totam pariter compreendit ac possidet")2
Fica a pergunta: você, cristão, já está sendo feliz e santo agora? Mesmo que imperfeitamente, esse é nosso dever. A eternidade é agora, neste vale de lágrimas. O cristianismo é paradoxal, uma unidade de contrários, sem dualismos.
O gnóstico tem tédio. Por isso, quer se revoltar. Ele odeia a própria estrutura da realidade, é um revoltado metafísico.
De forma oposta, Deus se repete todos os dias. Ele diz para o Sol ‘’Vamos denovo’’ e se alegra. Como diria o grande e alegre ortodoxo Chesterton:
“Uma criança balança as pernas ritmicamente por excesso de vida, não pela ausência dela. Pelo fato de as crianças terem uma vitalidade abundante, elas são espiritualmente impetuosas e livres; por isso querem coisas repetidas, inalteradas. Elas sempre dizem:
"Vamos de novo"; e o adulto faz de novo até quase morrer de cansaço. Pois os adultos não são fortes o suficiente para exultar na monotonia.
Mas talvez Deus seja forte o suficiente para exultar na monotonia. É possível que Deus todas as manhãs diga ao sol: "Vamos de novo"; e todas as noites à lua: "Vamos de novo". Talvez não seja uma necessidade automática que torna todas as margaridas iguais; pode ser que Deus crie todas as margaridas separadamente, mas nunca se canse de criá-las.3
É necessário se deslumbrar. A angústia em relação ao estado presente das coisas é gnóstica. Se alegre!
Outro ponto: Você, cristão, vive como sendo salvo pela graça ou pelo conhecimento da verdade?
Assista o vídeo completo sobre o livro no meu canal do YouTube:
CAMUS, Albert. O homem revoltado. Tradução de Valerie Rumjanek. 12ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2018.
BOÉCIO. A consolação da filosofia. Tradução do latim por Willian Li. 2ª ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2012.
CHESTERTON, G. K. Ortodoxia. Tradução de Gustavo Nonnenberg. 1ª ed. São Paulo: Ecclesiae, 2014.